domingo, 28 de novembro de 2010

Lapeanos - Dell´Erba, o primeiro guardião da memória



Empenhada na gravação de um vídeo sobre personagens que marcaram época na região da Lapa, a produtora Sigma busca informações sobre o alfaiate lapeano Miguel Dell’Erba. Casado com Olga Dell’Erba, ele faleceu sem deixar herdeiros diretos, o que dificulta a obtenção de dados mais precisos sobre sua história.
Relatos de parentes e de famílias que conviveram com o casal Dell’Erba, no entanto, ajudam a traçar o perfil desse personagem. “O Miguel trabalhava como alfaiate na Rua Martim Tenório. Era um ofício que aprendeu desde criança”, conta o sobrinho, Eloi Murari . “Ele chegou a montar uma loja de material esportivo, que passou a vender produtos com a Marca Dell’Erba. Como era apaixonado pelos esportes, Miguel acabou fazendo parte da diretoria do Lapeaninho Futebol Clube (fundado em 1926)”, acrescenta Murari. 

 
Filho de imigrantes italianos, Miguel Dell’Erba foi um lapeano da gema que durante muito tempo acalentou um sonho: a criação de um espaço reservado para preservação da memória da região da Lapa. “Foi assim que em 1976 surgiu o Museu da Lapa (conhecido como Museu Miguel Dell’Erba), com sede na biblioteca da Rua Catão”, acrescenta Murari.
Em relação ao Museu idealizado por Miguel e por seu amigo Olympio Perrone, o JG resgatou um importante relato datado de 7 de outubro de 1978 e guardado até hoje pela família Cucino. Trata-se de um recorte do jornal Tribuna da Zona Oeste. “O Museu vem funcionando há dois anos num pequeno saguão da Biblioteca Municipal da Lapa, à rua Catão, 611. Trata-se de uma inovação pioneira no setor de Museus em toda a Capital Paulista, pois a Lapa é o primeiro bairro a ter sua história documentada sistematicamente e levada ao conhecimento do público através de documentos e fotos doadas pelas famílias pioneiras”.


Pelo texto publicado no jornal Tribuna da Zona Oeste ficamos sabendo que, em outubro de 78, a comunidade se mobilizava para ampliar as instalações do Museu na própria biblioteca da Catão. “Os entendimentos necessários para a execução das obras de melhoria na referida sala já estão em andamento junto à Administração Regional da Lapa. Se tudo ocorrer conforme o programado, a mudança deverá ser feita até o final deste mês (outubro)”. Coincidentemente, passados 30 anos dessa reforma, a Subprefeitura da Lapa coordena a reforma de uma outra biblioteca, a Cecília Meireles de modo a criar um novo e amplo espaço para o acervo do Museu Miguel Dell’Erba, hoje transformado num centro de memória. As obras devem estar concluídas até o final deste ano", relatava o jornal.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Lapeanos - Ema Murari: mulher e operária

“Tenho orgulho da história da minha mãe. Durante 25 anos ela trabalhou como operária garantindo o sustendo da sua família, já que minha avó idosa não trabalhava e o meu avô tinha perdido a visão”. O depoimento é de Eloi Murari, lapeano da gema, ao falar de sua mãe, Ema Angelo Murari. “Por isso fiquei emocionado quando a sua memória foi homenageada pelo pessoal do Consabs (Conselho das Associações Amigos de Bairro da Região da Lapa)”.

Eloi conta que Ema, quando solteira, trabalhou em diversas fábricas de meias existentes na região. “Foi assim até ela conhecer meu pai (Brasil Murari). Eles se casaram na década de 30. Em comum tinham a origem italiana, pois meus avós deixaram a Itália e virem morar aqui na Lapa”.
O pai de Ema (Serafim Angelo) trabalhou durante muitos anos com outra tradicional família lapeana: os Isola. O avô paterno de Eloi, Alcide Murari, chegou a São Paulo em 1890, época da grande imigração italiana no Brasil, iniciada anos antes, ainda no reinado do imperador D.Pedro I. 

Os Murari prosperaram na Lapa. “Meu pai foi dono de uma padaria. Depois, abriu um armazém de secos e molhados na região da Guaicurus. Foram negócios que deram certo, o que lhe possibilitou dar para a minha mãe uma vida digna e bastante confortável.
Pelo fato de ter sido uma das operárias pioneiras do bairro da Lapa e pelo seu trabalho comunitário junto às paróquias da Região, Ema Angelo Murari empresta seu nome a uma viela ligando a Rua Roma à Rua Guaicurus.

domingo, 21 de novembro de 2010

Lapeanos- Muccio: raízes italianas numa história nipônica

Quem resgata uma interessante lembrança da Lapa de outrora  é a italianíssima família Muccio. “Foi da confecção do meu pai (Arair), na Rua Tito, que saíram as peças de lã usadas no desfile de moda em homenagem ao príncipe do Japão, quando ele visitou São Paulo no final dos anos 80”, conta Gerson Muccio. “É uma feliz coincidência tornar público esse fato exatamente quando os japoneses comemoram 100 anos de presença aqui no nosso país”, acrescenta ele, ao lembrar da Denelã, fundada por Arair na década de 60. 

Antes de chegar ao comércio, a família Muccio trabalhou duro na terra. “Meu bisavô (Amélio) chegou com a família no início do século passado e foi para o interior (no Noroeste paulista). Eles eram de Salerno, localizada no sul da Itália. Meu avô Antonio tinha, na época 12 Anos”, conta Gerson.
A família Muccio, como outras tantas que vieram tentar a sorte no Brasil, acabou trabalhando numa próspera fazenda e, com as economias acabaria por comprar lotes de terra. “Papai nasceu na região de Lins em setembro de 1936. Na década de 40, nossa família chegou aqui em São
Paulo e foi morar na Vila Diva, atuando no ramo de transportes”, relata Gerson Muccio, um dos quatro filhos de Arair. “Minha mãe (Diva, falecida recentemente) também era descendente de italianos e nasceu na cidade de São Manuel”. 

Foi somente nos anos 60 que, já na Lapa, os Muccio entraram para o ramo da confecção, inaugurando a Denelã. Como o negócio deu certo, o empresário decidiu abrir uma loja perto do Shopping Lapa. Era a Toca 99, pioneira na venda de roupa solta num grande balcão, dispensando as tradicionais araras e prateleiras. 

Os filhos e netos de Arair Muccio continuam morando do na região Lapa. A família tem participação numa das casas mais badaladas de São
Paulo, a Porto Alcobaça, na Avenida Francisco Matarazzo. Recentemente, a memória de Arair foi lembrada em solenidade realizada pela Câmara Municipal de São Paulo com apoio do Conselho das Associações Amigos de Bairro da Região da Lapa (Consabs). (Texto: Eduardo Fiora - Fonte- Jornal da Gente)

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Lapeanos - Lodetti: fama no comércio e no futebol


Uma rua cravada na movimentada Vila Hamburguesa une a memória dos tempos de outrora ao crescimento desordenado da região. Quem passa pela Milton Lodetti nem imagina quem foi esse personagem de tanta paixão pelo bairro onde nasceu, cresceu e morreu. “Lembro do meu irmão defendendo a camisa do Bela Aliança, nos anos 60 e 70”, conta José Carlos Lodetti. “Ele jogava de lateral direito e fez parte da diretoria do clube. 

O Bela Aliança chegou a disputar partidas na Segunda Divisão. Eu também fiz parte do time, que usava o campo localizado onde hoje fica o Sesi Leopoldina. E não era um campo de terra. Tinha uma graminha que ajudava muito.

José Carlos é um dos 7 filhos (seis homens e uma mulher) do casal Benedito (falecido) e Barbarina Lodetti (hoje com 91 anos). “Meus avós eram italianos. Meus pais eram do interior (região de Serra Negra e Amparo). Eles se casaram na igreja da Praça Cornélia (Paróquia São João Maria Vianney)”, conta Lodetti. “Um dos primeiros empregos do papai foi como guarda do Parque da Água Branca, na década de 40. Guardo com carinho essa foto, pois não o conheci. Quando ele morreu, eu tinha apenas um ano de idade”, conta José Carlos, que aos 58 anos é proprietário de uma papelaria na divisa do Alto de Pinheiros com Alto da Lapa. “Já Mamãe trabalhou na Santa Marina (indústria) e também na casa da família Matarazzo. Ela tem 15 netos, 17 bisnetos e um tataraneto”, acrescenta o empresário. 

Os Lodetti têm uma grande tradição no comércio da região. “Meu irmão Luiz é dono de um supermercado (que leva o nome da família) na região da Pio XI. Juntos, tivemos um açougue”, conta José Carlos.

Velhos tempos

No lugar das altas torres residenciais, grandes lotes de terras, mais tarde transformados em galpões. Assim era a Hamburguesa onde os Lodetti fixaram residência, na Rua Rosa e Silva, hoje Nanuque. 

Desse tempo, José Carlos guarda boas recordações, sempre vivas na memória. “A rua era de terra. Lembro que a Schilling já tinha paralelepípedos. Na infância a diversão era nadar nas lagoas na região da Ceagesp. Uma delas era o Tanque azul. Também com os amigos, não me cansava de colher frutas no pé na Fazenda do Seu Ernesto (na Rua Nanuque). Tinha muita banana e laranja”, conta José Carlos, não escondendo um certo saudosismo.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Origens da Lapa: As terras do coronel Anastácio e a ferrovia

Em 1805, período de incremento da produção de cana de açúcar, todo o movimento de tropas da rota que ligava a Vila de Itu a São Paulo e litoral foi desviado em razão das péssimas condições da ponte sobre o Rio Pinheiros. Aproveitou-se, então, a comodidade da ponte do Sítio do Coronel Anastácio de Freitas Troncoso.A qualidade do barro nas margens do Rio Tietê favoreceu em meados do século XIX o desenvolvimento de algumas olarias e o crescimento do povoado, reforçando a urbanização do bairro que começava a tornar-se industrial.

Na Segunda metade do século XIX, São Paulo começou a viver o apogeu da economia cafeeira. Nessa época, o centro de produção de café transferia-se do Vale do Paraíba para a região de Campinas. Visando o escoamento do café para o mercado externo, foi fundada em 1860 a "Association of the São Paulo Railway Co. Ltda".

Em 1867 foi inaugurada a estrada de ferro ligando Santos a Jundiaí, que passava por São Paulo, com algumas estações intermediárias. No lado oeste da cidade, a única estação implantada era a de Água Branca, local de cruzamento dos caminhos que ligavam a cidade à Freguesia do Ó, Pinheiros e Campinas. Pouco depois da inauguração, o trem também passou a fazer uma parada simples, próximo à ponte do sítio do Coronel Anastácio, para atender a população do então incipiente bairro da Lapa (foto arquivo São Paulo Railway- Estação lapa em 1899)

Neste período, a Lapa começava a apresentar os elementos que a definiriam como bairro urbano da cidade de São Paulo. As pequenas propriedades rurais da região começaram a ser loteadas, atraindo a crescente massa de imigrantes, principalmente italianos. Nesse processo foi aberto, na década de 1880, o loteamento de Vila Romana, composto de lotes agrícolas (chácaras).

No mesmo período foi lançado o loteamento do Grão Burgo da Lapa, compreendendo o já existente núcleo da "Lapa de Baixo" e toda a atual região central do bairro. Data dessa época também o loteamento de Vila Sofia, hoje confundido com Vila Romana, composto por 808 lotes de características urbanas.

Origens da Lapa: crescimento nas primeiras décadas so século XX

A ferrovia incentivou o surgimento das primeiras das primeiras indústrias da região, como a Vidraria Santa Marina e o Frigorífico Amour.

Elas se beneficiaram da proximidade com o rio Tietê, multiplicando-se nas três décadas de 1930, as indústrias começaram a se expandir em direção a outras áreas, mais especificamente para a Vila Leopoldina (onde concentrou grandes indústrias, principalmente do ramo metalúrgico), Vila Hamburguesa e Anastácio.



Nas primeiras décadas do século XX, a "Lapa de Baixo" passou a contar com uma melhor infra-estrutura urbana. Em 1915 estava pronta a rede de esgoto da Barra Funda, Água Branca e Lapa. Surgiram o comércio, as escolas, o bonde, a nova matriz, os cinemas, a imprensa e a iluminação pública. O Largo da lapa transformou-se no primeiro pólo comercial do Bairro, servindo a outras regiões que se situavam ao longo da linha de trem.

Com a chegada dos bondes que vinham do centro até a rua Guaicurus, desenvolveu-se o comércio na "Lapa de Cima". Em 1908 fundou-se a Cooperativa dos Operários da Ferrovia na rua 12 de Outubro. Mas é na década de 20 que o comércio tomou impulso nas ruas Dr. Cincinato Pomponet, 12 de Outubro e adjacências.

Lapeanos - Nicola Festa: patrono das tradições musicais

Na recém criada República dos Estados Unidos do Brasil, o ano de 1890 marcava os primeiros momentos do governo provisório do presidente Deodoro da Fonseca. Naquela época, ainda reflexo da política do imperador deposto, Pedro II, o porto de Santos continuava recebendo imigrantes europeus como mão-de-obra ,que vinha substituir o trabalho escravo, abolido no 13 de maio de 1888, justamente por força da ação de republicanos históricos.

Do convés de um dos navios ancorados no cais santista desembarcavam o casal Nicola e Maria Antonia Festa e os filhos Concheta e Estanislau. Começava, naquele momento, uma rica história dos Festa no Brasil. “Meu avô acabou se estabelecendo aqui na Lapa”, conta o neto Edson Festa. “Ele adquiriu lotes de terra na região da Rua Guaicurus na direção da Trajano. Nessas chácaras ele e minha avó cultivavam frutas e verduras. A vovó saia pela vizinhança para vender esses produtos”.

A Lapa é conhecida, hoje, como um bairro festeiro, mas já naquela época, os moradores da região faziam questão de se confraternizar, invariavelmente em eventos organizadas por Nicola. Numa devoção de origem italiana, ele organizou a irmandade de São Vitalino e Nossa Senhora do Carmo. Assim, a Igreja acabaria se tornando promotora de grandes festejos com muita diversão para o público: gincanas, fogos de artifício, pau de sebo... “Nesse movimento todo, o vovô era conhecido como o ‘festeiro’. Em todos esses eventos estava presente a Corporação Musical da Lapa (Banda Operária)”, revela Edson Festa.

Com os negócios indo de vento em popa, Nicola adquiriu outros terrenos na região da Lapa. Dada a amizade com os músicos da banda, o imigrante italiano acabaria doando um desses lotes (Rua Joaquim Machado esquina com Trajano) para a construção da sede da Corporação Musical, edifício que existe até hoje.

Além de festeiro e amante da boa música, Nicola Festa não negava ajuda aos mais necessitados, auxiliando famílias desabrigadas, dando-lhes moradia gratuita e ainda dinheiro para as despesas do mês.

Hoje, o ítalo-lapeano empresta seu nome à praça na Roma com Trajano, num terreno que era de propriedade da sua família.(Fonte: Jornal da Gente - Texto: Eduardo Fiora)

Urbanismo: assim nasceu a City

Em 1921, a Cia City resolveu estender sua atuação até a região da lapa. Com uma área de 2.126.653 m², a companhia contratou o arquiteto Barry Parker para projetar os bairros de Alto da Lapa e Bela Aliança. Desenvolvidos para uma população operária, mas, por possuírem todas as características diferenciadas dos bairros da Cia. City, os terrenos atraíram um público com bom nível cultural e poder aquisitivo. A venda dos terrenos prolongou-se até 1945.

A valorização dos Bairros City aumentou ainda mais com a cessão de terreno para a construção da Associação Cristã de Moços, que oferecia ampla infra-estrutura para a prática de esportes e lazer.
A comercialização da Vila Romana começou em 1927. Tratava-se do bairro mais popular da Cia City, mas sua ocupação seguiu processo semelhante ao ocorrido no Alto da Lapa. Os terrenos da Cia. City, já identificados por sua qualidade, o traçado característico das ruas e as preocupações ambientais despertaram o interesse daqueles que buscavam qualidade de vida atrelada ao bom investimento. Como chamariz extra, a Cia City ainda oferecia ao cliente a possibilidade de escolha de plantas de residências já aprovadas pela Prefeitura.

Lapeanos: Pereira Marques, jornalista e crítico engajado

A família laepana Pereira Marques tem na figura do patriarca Antonio (*Portugal -1879; + Lapa- 1925) um personagem intimamente ligado à criação do Cemitério da Lapa, em setembro de 1918. “Meu avô chegou ao Brasil em 1889, quando tinha dez anos. Aos onze, já morava com a família na Lapa, na Rua Antonio Fidélis”, lembra Antonio Pereira Marques Sobrinho , neto do imigrante português.



No início do século passado, as oficinas da São Paulo Railway, empresa inglesa que explorava as ferrovias no Brasil, já estavam em pleno funcionamento. Foi lá que o jovem Antônio conseguiu emprego, aos 25 anos, na função de ajudante de escritório. “Depois da jornada de trabalho, ele freqüentava o Grêmio Literário Português – Centro de Estudos de Intelectuais. Em 1910, o vovô deixou o emprego na Editora Pensamento para dedicar-se exclusivamente ao mundo da política regional”, conta Marques Sobrinho.

Foi nesse ambiente político que Antonio conheceu o então prefeito de São Paulo, Washington Luis, que se tornaria presidente da República, tendo sido deposto pela Revolução de 1930. “A Lapa, na época, reivindicava um cemitério. Isso era tema de conversas, debates e até mesmo piadas em diversas rodas da sociedade”, conta outro descendente, Antonio Pereira Marques Neto.

Líder comunitário, esse luso-brasileiro fundaria em 1918 o jornal “O Progresso”, um informativo crítico-noticioso, destinado a defender os interesses da Lapa. Em artigos e depoimentos contundentes, o jornal disparava uma grande campanha em defesa da criação do cemitério, fazendo eco aos anseios da sociedade lapeana, que no Carnaval de 1916 já dava o tom, colocando nas ruas do bairro um carro alegórico com o tema: “Um morto procurando sua cova”.

Com a gripe espanhola se alastrando pela cidade, Marques Neto insistia em suas críticas e conseguiu que o Washington Luis transformasse a área da “Encosta das Goiabeiras” no futuro cemitério, que receberia as vítimas da epidemia. “Como reconhecimento da luta de meu avô, o prefeito decidiu nomeá-lo como o primeiro administrador do cemitério”, conta Antonio Pereira Marques Neto. (Fonte: Jornal da Gente – Texto: Eduardo Fiora; Foto: Túlio Seawright)

Industrialização: Santa Marina, uma marca no tempo

A história da Vidraria Santa Marina reflete o momento de transformação de um Brasil exclusivamente agrícola para um país industrializado. O ano é 1895, quando Elias Fausto Pacheco, engenheiro proveniente de uma família de fazendeiros de café, e o conselheiro Antonio da Silva Prado, advogado influente na política brasileira, constituem a Prado & Jordão, embrião da Santa Marina.

O local escolhido para a fábrica foi a área próxima ao rio Tietê, rica em jazidas de areia de cor e qualidade ideais para a fabricação de vidro. Para quem conhece São Paulo, é difícil imaginar essa região de vias expressas e trânsito intenso, como ela era na época: alagadiça e praticamente desabitada, com umas poucas casinhas de sapé e pau-a-pique. Mas a cidade começava a se transformar, e os bairros da Água Branca, Pompéia, Lapa e Freguesia do Ó eram urbanizados aos poucos em função do crescimento da fábrica.

E a Santa Marina, sempre com os olhos voltados para o futuro, buscou novas alternativas: trouxe mão-de-obra especializada da França e ergueu um conjunto habitacional junto à fábrica para acomodar esses operários. As casas contavam com água, luz elétrica e escaravilha, um resíduo do carvão utilizado nos fornos que era um bom combustível para os fogões domésticos. Na escola da vila, os filhos dos operários aprendiam português, italiano e francês.

Em 1901, Antonio Prado comprou a parte dos herdeiros de Jordão, e em 1903 transformou a empresa em sociedade anônima, sob o nome de Companhia Vidraria Santa Marina Marina, em homenagem a uma de suas filhas. Em 1929, após o falecimento do conselheiro Antonio Prado, assumiu o cargo seu filho, Antonio Prado Junior. Os tempos pioneiros ficavam para trás... Enquanto surgia a segunda geração de funcionários, a fábrica crescia, se modernizava e diversificava sua linha de produtos. Além de garrafas, passaram a ser desenvolvidos tubos de vidro, frascos para perfumes, o vidro azul do “Leite de Magnésia de Philips” e ampolas para um remédio inovador, que mudou para sempre a medicina: a penicilina.

Na década de 50, foi inaugurado um forno de construção complexa, projetado para suportar uma temperatura muito maior do que as dos fornos normais. Dele surgiu um material que revolucionou a vida das mulheres na cozinha – refratários de vidro que suportam altas e baixas temperaturas.

São esses os produtos Marinex®, uma linha composta por diversas peças de formas e tamanhos variados, notáveis pela versatilidade e praticidade de uso que apresentam, já que podem ter inúmeras aplicações nas atividades culinárias e se destacam pela sua beleza, durabilidade e facilidade de limpeza. Depois vieram Duralex® e Colorex®, marcas Santa Marina de utensílios para mesa, criados para equipar sua casa com peças fabricadas em vidro temperado, com colorido diferenciado e característico.

Alta qualidade, visual marcante e multifuncionalidade geram o sucesso indiscutível de todos esses produtos, sempre e cada vez mais presentes nos lares brasileiros. Nos anos 60, um outro grande salto de qualidade foi dado com a fusão com o grupo industrial francês Saint-Gobain, empresa com mais de trezentos anos de experiência na fabricação do vidro. Parte integrante de nossas vidas, hoje a Santa Marina é o maior complexo vidreiro da América Latina, expandindo seus horizontes por todo o Brasil. Em ritmo de multinacional, estende-se por mais de 85 países.

Lapeanos - Sbrighi: família de talento

Conversar com a sanfonista Renata Sbrighi sobre seu passado familiar é viajar no tempo e descobrir uma história que nos legou talentos, não só na música como também na medicina e no esporte.
Tudo começou em 1891, quando Cláudio e Augusta Sbrighi desembarcaram no Porto de Santos, após uma longa travessia marítima, que teve como marco zero a cidade de Veneza, na Itália. No navio, o casal Sbrighi e o filho Renato, de 5 anos, conheceram a família Toninato. "Renato passou a viagem toda brincando com a Teresa Toninato, uma bela menina de 4 anos. E foi cruzando o Atlântico que as duas famílias combinaram o casamento de seus filhos", conta Renata, ao lembrar de seus bisavôs, que moraram e trabalharam na Lapa.
Treze anos depois, o combinado foi cumprido.

Numa festa tipicamente italiana, Renato e Teresa subiam ao altar. O jovem lapeano trabalhou como carvoeiro na rede ferroviária e depois fez sucesso como dono de posto de gasolina e de um bar-pizzaria (o Lapa Progride), na região da Cincinato Pomponet com Doze de Outubro, nos anos 20, além de abrir o cine São Carlos na Rua Guaicurus. "Meus avós tiveram 6 filhos. Aquele que ficou mais famoso foi o tio Cenno Sbrighi (*1911;+ 1975). Ele se formou em Medicina e é lembrado até hoje como o primeiro médico da Lapa. Cresci ouvindo que naquele tempo não existiam ambulâncias. Era o carro do meu tio que transportava os doentes", recorda Renata. Hoje, Cenno Sbrighi empresta seu nome a uma rua na Lapa de Baixo, onde está localizada a TV Cultura.

Música e Futebol

Aristóteles, irmão mais velho de Cenno, nascido em 1905, viria a conhecer Elvira Naccarato, uma jovem filha de imigrantes calabreses. Dessa união nasceria Renata Sbrighi, que herdou da mãe a paixão pela música. "Comecei a estudar música com ela. Minha mãe tocava sanfona e sempre reunia um grupo de sanfoneiros. Ficava admirada aos vê-los tocar. Decidi seguir carreira na música. Fui para o Conservatório. Estudei piano e sanfona. Um dia pensei comigo mesmo: por que não lutar para formar uma orquestra de sanfoneiros? Foi assim que fundei a Orquestra Sanfônica, em 1988. O grupo existe até hoje com sede aqui na Lapa".
Ao falar do seu pai, Renata lembra com orgulho que ele foi jogador do Palestra Itália (hoje Palmeiras) nos anos 20. Mais tarde ele seria homenageado com a carteirinha de sócio nº 1 do clube da Rua Turiaçu. (Fonte: Jornal da Gente - Texto: Eduardo Fiora; Foto: Julia Braga)

Lapeanos - Família Rivetti: De Nápoles para a Lapa

No resgate da Lapa de outrora, não faltam exemplos de imigrantes italianos que, fugindo da grave crise econômica do país de origem na segunda metade do século XIX, cruzaram o Atlântico dispostos a “Far l´America” (conquistar a América).
Uma dessas história tem a ver com os Rivetti, tradicional família lapeana. Quem conta algumas passagens guardadas na memória e em documentos pessoais é Walter Rivetti, bisneto do imigrante Ângelo Rivetti, um napolitano nascido em 1851 e que desembarcou em São Paulo em 1871. “Meu bisavô chegou junto com os Martinelli, com quem foi trabalhar. Naquela época, a família Martinelli começava a mexer com vários negócios, entre eles a carne”, afirma Rivetti.

A primeira residência da família italiana em São Paulo foi um sítio na Romana (Scipião com Faustolo). Foi lá que Ângelo criou seus 13 filhos. O caçula, Giuseppe (avó de Walter) veio da pequena cidade de Mon-dragone ainda criança. Anos mais tarde, no começo do século passado, os Rivetti iniciavam uma próspera história no comércio paulistano. “O bisavô Ângelo montou um pequeno centro comercial na rua Tito. Em 1915 já administrava açougue, leiteria, armazém e padaria”, conta o bisneto do imigrante napolitano.

Os Rivetti também entraram para o ramo da construção civil e participaram de obras importantes, como o famoso prédio Martinelli, no centro de São Paulo, e também do Tendal da Lapa (hoje centro cultural e sede da Subprefeitura), na Rua Guaicurus, em 1938. “Foi um edifício projetado para servir de entreposto de carne. Lá chegavam os caminhões que descarregavam os produtos para fiscalização e distribuição”, lembra Walter. “Meu pai (Rinaldo) nasceu em 1918 e seguiu os passos do meu avô Giuseppe e do bisavô Ângelo”.
Lapeano atuante, Rinaldo (também conhecido como Renato) sempre lutou pela melhoria do bairro. Por essa dedicação às causas lapeanas, o Decreto Municipal nº 17.807, assinado pelo então prefeito de São Paulo, Reynaldo de Barros, determinava que o mercado Municipal da Lapa, recebesse o nome de Rinaldo Rivetti. (Fonte: Jornal da Gente - Texto: Eduardo Fiora)

Origens: A pesquisa que datou a fundação do bairro

No dia 12 de outubro, feriado de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, os lapeanos também comemoram o aniversário do bairro. E graças ao trabalho do historiador José Carlos de Barros Lima os eles  sabem, com segurança a idade deste território que escolheram para viver. É que desde 1991, Barros Lima vem pesquisando a história da Lapa.
Naquele ano, o professor ocupava o cargo de superintendente da Associação Comercial de São Paulo Distrital  Lapa e  ficou encarregado de fazer o discurso para as comemorações do 246º aniversário do bairro . “Durante as pesquisas para escrever o discurso, suspeitei que aquela data poderia estar errada e que a Lapa deveria ser bem mais antiga do que se acreditava”, lembra o historiador.

Em 1994, após três anos consultando os documentos do Arquivo Histórico Municipal ele faria uma descoberta surpreendente, que acabou mudando a data da fundação da Lapa. “Por volta de 1590, corriam boatos de que os índios da região planejavam um ataque à Vila de São Paulo, formada por 140 moradias em torno do Pátio do Colégio. Os dois grandes rios de São Paulo, Pinheiros e Tietê, e as serras que cercam a cidade, eram defesas naturais”, explica Barros Lima. “A única fronteira vulnerável ficava na região hoje ocupada pela Lapa próximo ao local onde o Pinheiros (na época chamado Jeribatiba), encontra o Tietê – então conhecido como Anhembi.. Havia um ponto onde este poderia ser ultrapassado sem grandes dificuldades, por sobre as pedras ali existentes, chamado pelos índios de “Emboaçava”, que em Tupi-Guarani se chama “lugar por onde se passa"

 Perto dali, o bandeirante Afonso Sardinha possuía uma sesmaria e garimpava ouro no Pico do Jaraguá. A partir de uma decisão da Câmara de São Paulo e com o apoio do Padre Anchieta, Sardinha construiu ali, em 1591, uma fortaleza, denominada “Tranqueira do Emboaçava”, com o objetivo de proteger a cidade. No entorno desta edificação apareceram agregados, surgindo então a Vila do Forte, povoado que antecedeu a Lapa”.


Durante 150 anos, a região ficou conhecida como Emboaçava. Em 1740, o padre Ângelo de Siqueira Ribeiro do Prado doou à Companhia de Jesus a fazenda que possuía no local e onde havia uma capela com uma imagem de Nossa Senhora da Lapa. “A única condição era que, uma vez por ano, os jesuítas fossem até lá rezar uma missa para a santa. O local passou a ser conhecido como Fazendinha Jesuítica da Lapa e, logo, simplesmente como Lapa”, explica José Carlos de Barros Lima.

Alguns anos depois, os jesuítas trocaram a Lapa pela área onde hoje está o município de Cubatão, que era de propriedade do Coronel Diogo Pinto do Rego, levando para lá a imagem da santa, que hoje é a padroeira da cidade. Anos mais tarde, a Marquesa de Santos, amante de Dom Pedro I, também foi proprietária da Lapa. A forma atual do bairro , segundo Barros Lima, começou a se desenhar no final do século XIX, com os loteamentos que deram origem ao Grão Burgo da Lapa – que abrange a região onde hoje está a Lapa Baixo – e à Vila Romana. O loteamento realizado pela Companhia City no início do século XX deu origem ao Alto da Lapa.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Lapa, lapeano e lapeanidade

De um nome próprio, Lapa, surge um topônimo: lapeano. Da alma do lapeano brota um sentimento: lapeanidade. Da soma de Lapa, lapeno e lapeanidade nasce este blog. Ele pode ser definido como espaço de pertencimento a uma comunidade que se encontra e se reconhece em valores como família, amizade, solidariedade e ações centradas na luta por justiça social e qualidade de vida, o que significa defender bairros mais humanos.
São exatamente esses valores e ações, impossíveis de serem mensurados, que nos dão a inequívoca noção de pertencimento à comunidade da região da Lapa. Ao vivenciá-los, noite e dia, cotidianamente, e ao deixar claro, que deles jamais abriremos mão, nos sentimos ligados a um único cordão umbilical: a Lapa da gente.
Uma Lapa da gente dos bairros da Lapa; Lapa de Baixo e do Alto da Lapa. Gente da Vila Romana e da Vila Ipojuca. Gente também da Vila Leopoldina, da Vila Hamburguesa, do Parque da Lapa, da Bela Aliança e da Vila dos Remédios (onde tudo começou em 1591). Gente de uma Lapa expandida na Vila Jaguara e Vila Piauí.
E é exatamente a história e geografia dessa gente e desses lugares que aqui neste blog procuraremos retratar.